quarta-feira, 23 de novembro de 2011

DESABAFO DE UM INTERCAMBISTA

"Victoria, sai da Internet, você está na Alemanha, vai aproveitar seu intercâmbio!"

Não é exagero se eu falar que ouço isso ao menos 3 vezes por dia - e às vezes, até de alemães. 

Olha, aqui, querida pessoa que me fala isso: como você quer que eu aproveite meu intercâmbio em plena tarde de dia útil, quando lá fora está -2, -3 graus Celsius, uma neblina do caramba tampando tudo à sua frente (e quando eu digo tudo, eu quero dizer que você não consegue enxergar nem a esquina), você mora em uma vila que fica a 4km da cidade, e só tem como ir de bicicleta ou carro até lá, sendo que não dá para ficar pedindo para a mãe hospedeira me levar para lá e para cá? E quando a sua cidade (que fica a 4km da sua casa) não tem quase nada para fazer, nem ao menos um pequeno centro com lojas bem baratinhas ou bem fraquinhas para você simplesmente andar em frente, ou algum lugar para você comer e não ser observada por turcos todos os segundos da sua estadia? E quando você não tem nenhum outro intercambista por perto, para poder desabafar e dar um abraço, quando a gente mais precisa? E quando todo mundo fala que você tá usando muito a Internet, usando muito o Facebook, e deveria se desligar um pouco? E quando todos acham que você está apenas desperdiçando tempo, quando está conectada na Internet? E quando tudo aquilo que você mais ama fazer está relacionado com a Internet? E quando você estuda alemão, estuda fotografia, estuda arte, estuda videografia (tô começando agora ainda, acalmem, sem êxito!), estuda moda, estuda português, estuda jornalismo, estuda música e estuda também sua escrita, na Internet? E quando Internet não se resume em Facebook e contato com o Brasil? E quando Internet não é refúgio? E quando você não consegue explicar tudo isso em alemão? E quando você está cansada de tentar, tentar, tentar, e não conseguir? E quando mal-entendidos acontecem e você tenta mostrar que é inocente, mas não sabe quem acredita ou não em você? E quando você, finalmente, se sente em casa nessa família hospedeira, mas ao mesmo tempo, não? E quando você não sabe o que está sentindo, e tem que acabar desabafando numa quarta feira, à meia noite e vinte e nove minutos da madrugada, escrevendo em seu blog?

Eu só peço uma ajuda... De como conseguir fazer tudo aqui que eu gosto, fora do computador. Fora dessa vida tecnológica, fora da Internet, ficar desconectada por um tempo. 

4 comentários:

@ichbinle disse...

Te entendo TANTO, quando lá na minha cidade estava inverno VIX. eu só comia e ficava no note que tinham me dado. Eu me sentia culpada, eu sabia que estava perdendo mas o que eu ia fazer ? não tinha ninguém na cidade, tava um frio da porra, não tinha como pegar minha bicicleta e simplesmente ir passear porque a neve era absurda eu dependia do meu pai. Então todo final de semana eu marcava algo com algum intercambista de outra cidade, meu pai me levava na estação de trem e eu ia. Não importava se a cidade era sem graça, se eu fosse fazer nada mas pelo menos eu estava passeando. Essa época de natal é bem difícil, a gente já se acostumou, esta alegre no outro país mas SEMPRE pesa! Então quando me deparei com essa saudade e solidão uns 2 dias depois do natal, fiquei umas 15 horas em um trem e fui pra Hungria passar o ano novo em Budapest. Se tu não tiver como viajar, marque com o pessoal da sua cidade, não sei se tu tem amigos muito próximos ou não,eu até dezembro não tinha,mas os alemães são assim : as pessoas que tu menos imagina iriam fazer de tudo pra te ajudar é só você tomar a iniciativa e marcar (com mil anos de antecedência claro e com a certeza de que não vão esquecer)eles ficarão felizes pode ter certeza. Depois que meu ano passou eu olhei e pensei puta que pariu, podia ter feito tantas coisas e fiquei lá perdendo tempo mas nem é assim. o seu intercambio vai ser perfeito do jeitinho dele, as vezes são contos de fadas (que na minha opinião são os mais sem graça) e as vezes são BEM difíceis como foi o meu, tive problemas o tempo todo, mas esses problemas me fizeram crescer tanto, me fizeram aproveitar MIL VEZES mais os dias felizes. As pequenas alegrias se tornaram gigantes e os grandes problemas ... pff ... foram esquecidos. Então faça o que tu tiver vontade mas não se esqueça da mais famosa frase "quem faz o intercâmbio é o intercambista" porque é a maior verdade! viel viel spass! Sei fröh dass du diese super speziel Chance hast! <3 ganz liebe grüsse, Leti.

Anônimo disse...

Falou tudo... sinto a mesma coisa aqui!!

Anônimo disse...

Vivi, escrevi um texto lindo e imenso comentando todo o seu sentimento e... não só não foi enviado como... se perdeu! Isto é horrível! Não vou conseguir repetir, pois foi saindo assim do coração e neste momento ainda estou processando a raiva destes sistemas eletrônicos por serem tão voláteis. Este aqui, antes de enviar, vou copiar duas vezes para outros sistemas para não repetir o erro. Sabe o quê? Fico na certeza de que você vai ouvir minhas palavras, as palavras que acabo de perder no ciber espaço mas que, como foram escritas com o coração, saíram do meu e foram para o seu, diretamente, sem bytes no meio para atrapalhar. Como ainda estou inspirado, te digo que comentei sobre o fato de que você está conhecendo o inverno, a distância, a solidão, tantas vezes falados nas reuniões de preparação mas que nem se comparam com a experiência direta da verdade. Não tema, você já conhece a euforia e agora conhece a "depressão", são duas faces da mesma moeda: a vida. Este é o valor do intercâmbio, ele nos mostra como enfrentarmos a nós mesmos, a nos conhecer melhor e a crescer, sem delongas. O comentário do guri que tão bem te entende (pelo texto suponho ser um guri), de tão longe, no tempo e no espaço é o alento que você pediu como ajuda. E veio rápido. Em outros tempos, tudo o que podia fazer era escrever a lápis em um diário de papel, ou talvez uma carta a ser enviada no início do inverno e ser respondida já na primavera. Hoje, sem prejuízo destas possibilidades (como ler um livro ou se maravilhar com os flocos de neve no vidro da janela) você também pode usar a internet, desde que não seja fútil, ou inútil. Antes, a 20 ou 30 anos, ao intercambista restava sonhar em ser escritor, hoje você quer ser videomaker, não importa, o que faz a diferença não é a qualidade da câmera (ou da caneta), mas a qualidade das idéias, ou do olhar. Então, apesar de tudo ter mudado tanto, tudo o que é verdadeiro continua como sempre foi: dentro do coração. Este é o momento para a reflexão, todo o Universo conspira para isto, simplesmente aceite, e viva. As reflexões mais importantes e verdadeiras são atemporais, por isso não há problema que sejam registradas no diário de papel, um dia poderão ser resgatadas e terão até mais valor. A internet é o território da instantaneidade, mas pode também ser o depositário da eternidade, não é o instrumento que faz a diferença, é a qualidade da reflexão, que é fruto da qualidade da experiência, que por sua vez é tanto melhor quanto maior for a abertura a ela. Como te disse antes, é a idéia (eu sei que tiraram o acento, mas achei péssima ideia, gosto dos acentos pela sonoridade que permitem ao texto escrito, simplificar isto é empobrecer suas possibilidades). É a idéia que faz a diferença e ela é fruto da disposição de viajar. Se o frio externo a impede, o calor do coração sempre a permite ao interior de si mesmo. Garanto que vale a pena. Afinal, como já disse um poeta, a vida não é pequena. Beijão. Pai.

Julia (Lingen kkk) disse...

Viiiiii, linda! Eu sei E-X-A-T-A-M-E-N-T-E como você se sente! Tenho uma raiva quando falam isso, e na verdade nem sabem o que acontece. Como é que a gente vai sair nesse frio, de bicicleta, e pra ficar fazendo nada??? Eu moro em Lingen, tudo bem, mas a minha casa é a 3,5km do centro e mesmo que fosse perto, vou ficar andando no frio todo dia???? Concordo plenamente, a internet não é só facebook, é uma "aula" pra o que você quiser. Então relaxa, é muito fácil as pessoas falarem quando não sabem pelo que a gente passa.. só ignore :D e lembra que to aqui quando você precisar!! Love youuuuu =***